30 março 2008

Um lugar


Dancei nos dedos do artista de rua enquanto me moldava ao sabor dos desejos da sua mente.

O poeta quis que eu fosse desenhada pela sua pena, ávida de fantasias mirabolantes, para aclamar os sentimentos dos outros.

O assassino usou-me nos seus esquemas maquiavélicos para conquistar o seu lugar no mundo abstracto.

Estou de passagem nos lábios do profeta, que toma nos braços a vivência do mundo.

Os músicos querem a força na voz para cantarem o que lhes segredei em sonhos.

Na guerra, sou o medo e a lágrima do soldado perdido.

A minha marca guia os passos dos nómadas na busca de um lugar e os marinheiros sorriem ao ver-me brilhar no céu escuro.

Sou um todo e sou o nada, sorvo a vida para me enriquecer e fazer parte do mundo na sua plenitude, no verde das pradarias, no espelho que é o mar e no mapa das estrelas.

Sou apenas eu em busca de mim e vejo-me em cada olhar com esperança e em cada sorriso tímido.