18 dezembro 2006

Infância

Tiraram as roupas à beira do rio, sentindo a água transformar-se em cócegas nos dedos dos pés.
Era fim de Verão, e a ameaça do tempo dava-lhes a sensação de liberdade e vontade de desafiá-lo.
Eram crianças há muito tempo e tudo se destinava a ser explorado pelos seus olhares curiosos e pelas mãos sedentas de sabedoria.
As árvores já pendiam para outra estação e eles sabiam que esta seria a última vez que molhariam os corpos, ainda verdes na maturidade, naquele rio de tantas estórias que vivem desde sempre.
A nostalgia nunca fará parte deles porque nada será esquecido.
Não haverá memória, apenas recordações para sempre vividas com lágrimas e sorrisos tímidos.
São amores partilhados à fogueira dos acampamentos e desafios à amizade nos bosques, onde passearam de mãos dadas ou em corridas desenfreadas em busca de tesouros.
Nunca falarão desta infância, ela aparecerá em pequenos momentos das suas vidas e bastará um olhar cúmplice para perceber que há algo mais que fica por dizer...
Por enquanto, brincam no rio, chapinhando o futuro com gotas de prazer puro que jamais irão esquecer! Esse é o seu maior tesouro...