08 março 2009

Uma rosa...


Apenas ser a rosa.

Apenas ser o sonho rodeado de espinhos, a vida com pétalas de rubi.

O verde das suas folhas, reluzente pelos fluídos da madrugada e banhado pelo sol da manhã, reflectem no teu olhar o amor eterno e efémero.

Algo estremece nos meus sentidos quando, num gesto subtil, os meus dedos acariciam as pétalas vermelhas e carnudas.

A penumbra cresce à medida que a palete de cores do crepúsculo se desvanece.

Na Terra finita e sem limites, não vemos para além do alcance dos olhos e as pétalas fecham-se no deleite da luz absorvida, com o prazer abandonado nos lençóis da luxúria.

E quando o primeiro raio romper de novo pelo jardim secreto, estarei à espera para te acolher no orvalho da madrugada.

02 março 2009

A vós


A água corre transparente no regato, lá em baixo, na horta dos meus sonhos. Continuo a lá ir sempre que o brilho dos teus olhos azuis transforma a minha tristeza em sorrisos de infância.

A nostalgia de me sentar no teu colo e de ouvir as tuas histórias de décadas passadas, surgem nos momentos em que volto à posição fetal para me embalar nos teus braços.

Num outro mundo, estás novamente na lavoura com a enxada na mão e a marmita, que a avó te preparou, a teus pés.

O teu filho, junto a ti, esqueceu-se do futuro e vive feliz a vosso lado, protegido da angústia que o mundo lhe reservaria.

Mas nós, não nos esquecemos. Vivemos no presente a reviver o passado e a sonhar com o futuro.

Os lábios desenhados pela saudade, sorriem porque apagaram o passado turbulento, a fome, os choros e o medo.

Agora, só resta a vontade de poder voltar atrás e fazer tudo de novo, apenas para te ter por mais um momento eterno.