23 fevereiro 2008

Anjo negro


Vieste suavemente preencher os espaços vazios das páginas do meu livro.
Sou do lugar onde, na essência dos cosmos, surgiu a solução para a equação dos elementos que fazem o Universo avançar e retroceder.
O paradoxo que criaste quando abriste as asas para vir ao meu encontro, é elevado ao expoente máximo dos impossíveis.
Os mundos paralelos chocaram entre si para criarem a ficção e a imaginação desceu sobre os seres.
Deixámos de pertencer, deixámos de existir e as nossas moléculas criaram um mundo à parte... Ao fundirmo-nos um no outro, toda a História Universal foi criada.
Não há vida nem há morte, não há tranquilidade nem euforia.
Tu e eu, meu anjo negro, jamais seremos senão um pedaço de sonho dos outros...

21 fevereiro 2008

Os amantes

Passaram por mim visões que marcaram a ferro e fogo a minha pele.
Conta minha alma, todos os segredos que não posso revelar, que me atormentam e não me deixam sonhar. Que me tiram o sopro da vida!
Segredos que me julgam sem direitos nem deveres, sem justiça nem poder.
A ti tos contarei no leito de morte para depois expulsar a vida e me entregar a ti.
Na espiral do movimento do meu espírito, vivi ventos, sentimentos e desgraças. Nos braços de ninguém me deixarei ficar depois de desfalecer, levando comigo um pedaço da tua carne.
Levei os estranhos seres a possuírem-me, gemendo, transpirando, sem noção dos traços que se apagavam da tua pele e criavam crateras no novo mundo.
Das crateras nasceu o fogo e torrentes de água transbordaram das suas pálpebras para se transformarem numa cortina de nevoeiro húmido e quente.
Acreditaram no sonho e assombraram os seus momentos de prazer. Suspiraram sobre o seio adormecido dos amantes, aspirando as fragrâncias de deleite que se soltavam dos seus corpos extasiados.
Perdi a consciência por entre as sedas e cetins da paixão e deixei-me morrer.