26 junho 2006

Fui à beira do mar e fechei os olhos


Todos os sons e imagens que apaixonam as gentes, envolvem-me num turbilhão de sentimentos e na turbulência dos tempos.
Deixam-me presa aos seres que já não existem, que me sussuram, em constante surdina, os segredos de milénios desconhecidos.
Vivo num país sem nome como única sobrevivente de um povo desaparecido.
A História transformou-se em lenda, a lenda em mito e lentamente tudo desaparece.
A minha memória deixa pegadas e perde-se num labirinto.
Os cabelos brancos salpicam a minha sabedoria, mas a vivacidade que transborda dos meus olhos, sempre atentos ao que o vento me diz, continua a dar esperança às crianças que me rodeiam.
Agora, passo o testemunho a ti, meu jovem discíplo, e cabe a ti seguir a chama que se acendeu no primeiro dia dos séculos.
Abraça toda a demanda a que foste designado, com o símbolo dos poderes dos nossos astros, tão diferentes dos daqui...
És o filho das luzes que trouxe de lá. Não te direi de onde vens, nem quem é o teu povo, mas saberás pelo calor dos meus lábios porque não choraste no teu primeiro olhar sobre o mundo e porque olhaste bem fundo nos meus olhos levando a tua pequena mão às rugas da minha testa e as desenhaste caindo num sono profundo.
Sorri, como nesse dia, perante os teus medos e nada te ultrapassará.
Chama por mim quando te vires moribundo e dar-te-ei o sopro da vida que me levaste no dia em que explodiste de mim.
Levas o peso dos nossos mundos mais além que os próprios deuses alguma vez se atreveram e nunca te deixarás vencer.
Leva o meu hálito de esperança e retoma o que eles me roubaram.... O tempo!

14 junho 2006

Thousand dreams, thousand spells

Like a warrior fighting beneath the stars,

Like an angel singing above the clouds,

I watch your dreams,

I guide your prayers.

Like a wizard whispering spells,

Like a monk blessing souls,

I believe in darkness,

I kneel before your light.

The humming of a thousand spirits,

Gathering in the valleys,

Call your name in one voice.

Your body and soul are finally one

And you no longer belong to Earth....

09 junho 2006

Enquanto sonhavas


Depois da guerra, por entre os terríveis escombros, senti uma leve aragem que me acariciou o rosto. Parecia uma mensagem vinda do lugar em que já não acreditamos há muito tempo.
Peguei na tua mão e sorri ao perceber que ainda dormias. Os teus pesadelos tinham finalmente cessado e transmitias pela serenidade do teu rosto, que, afinal, a esperança não padece quando tudo o resto já partiu.
As lágrimas ainda tentam secar nos rostos cinzentos dos homens, enquanto as suas mãos feridas levantam um por um os pedaços da vida. Reconstroem sem pararem com o medo estampado nos olhos à espera que os sonhos regressem de onde se refugiaram.
É fim de tarde e o sol tímido começa a ir ao encontro do outro mundo, como nos habituámos a chamá-lo.
Deixo-te no teu ninho e, como todos os dias, parto ao encontro desse Deus, à luz que ilumina a borboleta que leva os meus segredos e desejos numa última oração.

02 junho 2006

Regresso


Ao abrir a porta, o seu ranger transporta-me para um mundo ancestral.
Há nas estantes vazias, fantasmas dos livros que não foram lidos.
Correntes de ar invadem a casa, onde tudo está abandonado, onde as folhas jazem espalhadas pelo chão.
Há vestígios de sombras e pegadas no pó dos tempos.
Canções de embalar pairam como espectros à espera de um sinal para regressarem.
Continuam a vibrar as vozes de antigamente e as guitarras ainda tocam baixinho ao anoitecer.
Um sussurro passa debaixo da porta...
O vento empurra-me devagar e rodopio descalça para te encontrar de mão estendida, pedindo-me a primeira dança.
Tudo é de encantar como nos contos de outrora.
São tesouros perdidos de sonhos não sonhados.
São raios de sol perdidos nos meus oceanos.