22 novembro 2005

Conta-me uma história...


Lembras-te quando chegavas a casa e nos sentávamos no teu colo?
As primeiras palavras que nos saltavam da boca eram: "conta uma história". tu começavas a rir e lá puxavas pela imaginação e viajavas pelas tuas recordações...
Sempre que me ias buscar a cavalo na "Burreca" com a minha mochila laranja feita de cartão plastificado, eu fazia o meu melhor sorriso, orgulhosa do meu transporte de quatro patas.
Na tua casa, tinha os meus esconderijos de onde observava com atenção todos os vossos gestos.
Ela a lavar a loiça e o chão da cozinha sempre com muito cuidado de ver com os dedos se tudo estava limpo.
Também se ria e contava histórias de "tal sítio assim assim com fulano tal que desaparecia e passados muitos anos voltava para casa onde mais ninguém o reconhecia porque ele tinha morrido".
Que saudades tenho da vossa infância que brilhava nos vossos olhos e cantava nos vossos lábios. Os vossos cabelos brancos avisavam que nunca haveria um fim. Seria um "até sempre".
É este "até sempre" que permanece no brilho dos meus olhos e que canta nos meus lábios.

Vamos voar?


Quem te faz lembrar o velho que atravessa o jardim? Lembranças esquecidas elevam-se na voz da chuva para descer sobre todos. O sol esqueceu-se de brilhar para me secar a roupa encharcada.
É no rodopio das sensações que me instalo no escuro, ao fogo da lareira, ouvindo a música que prolifera nas suas vibrações dentro da minha mente.
A cor das chamas que ondulam, chamam a si os espíritos que me habitam e o nada transforma-se em calor...
Chamo a mim o sonho de que tanto gosto, que me faz acreditar que posso voar e sentir o ar fugir dos meus pulmões.
Na sombra da água existe algo que me puxa e no pânico, a derrota espreita sem esperar pela luta. É mais um turbilhão da relação entre os elementos. Sempre o mesmo conflito que me repela dos outros num gesto que não reconheço...
Como descobrir a chave que revela o mundo que vejo no espelho?
Eu sei princesa, as rosas brotam do teu sorriso e a sua beleza já não está contigo e nada mais tem a ver comigo...

17 novembro 2005

Num só tempo


Para nos sentirmos algo definitivo, temos que gerar a nossa visão interna do espaço vazio para sabermos como preenchê-lo. Não é urgente, pode ser feito num só tempo, que se exclui da hora, do minuto, do dia ou da noite... E a dureza que há no rosto do mundo, que nos faz rodopiar na incerteza do que poderá eventualmente acontecer, não será ela também um desengano? Quem poderá designar essa ordem, esse pedido, esse desejo? Dizem que o destino não é traçado por nós, nem, a cada momento que passa, é alterado por ninguém. Deve ser mais uma das palavras que aparecem no dicionário para sermos enganados, mais uma vez, pelo tempo. É como a saudade... Fica sob a forma de aperto entre o estômago e a garganta, ficando o alívio. É-nos devolvido o que nunca se perdeu.... Somos um produto do tempo mal contado, saindo dos ponteiros do relógio que há muito tempo andaram ao contrário... Este texto fica sem fim, porque arrisca-se a desrespeitar a lei do tempo!