30 março 2008

Um lugar


Dancei nos dedos do artista de rua enquanto me moldava ao sabor dos desejos da sua mente.

O poeta quis que eu fosse desenhada pela sua pena, ávida de fantasias mirabolantes, para aclamar os sentimentos dos outros.

O assassino usou-me nos seus esquemas maquiavélicos para conquistar o seu lugar no mundo abstracto.

Estou de passagem nos lábios do profeta, que toma nos braços a vivência do mundo.

Os músicos querem a força na voz para cantarem o que lhes segredei em sonhos.

Na guerra, sou o medo e a lágrima do soldado perdido.

A minha marca guia os passos dos nómadas na busca de um lugar e os marinheiros sorriem ao ver-me brilhar no céu escuro.

Sou um todo e sou o nada, sorvo a vida para me enriquecer e fazer parte do mundo na sua plenitude, no verde das pradarias, no espelho que é o mar e no mapa das estrelas.

Sou apenas eu em busca de mim e vejo-me em cada olhar com esperança e em cada sorriso tímido.

02 março 2008

Nas águas do mar me encontrei

Avançando aos poucos pela areia, deixei a água acariciar a minha pele e as minhas pegadas ganharem vida para fugirem rindo.

Apanhei conchas a cada passo que dava, admirando o caleidoscópio de cores e formas à medida que as rodava entre os meus dedos molhados.

Flutuei em câmara lenta pela espuma brilhante, passando do branco ao azul-turquesa, do azul céu até ao negro das profundidades.

Fechei os olhos e deixei que a água me tomasse nos braços e me embalasse enquanto me prometia que não era preciso lutar mais.

O medo abandonou-me e eu deixei-me ir ao sabor do infinito. Senti que estava finalmente no meu lugar, sabia que ali seria o meu refúgio.

Então, sorri e o sorriso transformou-se em gargalhada pura e cristalina. A serenidade envolveu-me e tudo fez sentido.

Como num sonho...


Fui passear no bosque onde me pegaste na mão e corremos como loucos inconscientes. Com a força das nossas gargalhadas levantámos do chão as folhas caídas, que após a nossa passagem rodopiaram e voltaram a pousar suavemente no seu leito eterno.
Vi o Sol brincar através do buraco de uma folha colhida da árvore do nosso encontro e sonhei!
Devolveste o batimento descompassado ao meu coração e a respiração voltou ao ritmo acelerado da expectativa de um novo momento.

O toque do teu abraço e o som da tua voz fizeram com que a luz hesitasse em iluminar, dando-nos a ilusão de que o mundo secreto era só nosso.
A cumplicidade entre nós cresceu naquele curto espaço de tempo e tornou-se para sempre...