À espera
Ele ouviu um som indefinido e breve...
Sem se aperceber, ficou parado no meio da rua, esperando, curioso, que o som voltasse a aflorar os seus sentidos.
Não voltou a ouvi-lo. Não havia urgência… Em breve esqueceria aquele destimbrado movimento de ar.
Mas o som voltou, assombrando os seus sonhos. Deu voltas e voltas, sem poder separar o que era realidade, sem conseguir pensar nem acordar.
Não percebeu a sua língua, nem porque o fez parar na rua sem mais ninguém se aperceber. Tentou descrevê-lo por palavras, mas o traço a carvão não o podia definir.
Voltou a ouvi-lo, desta vez mais pronunciado. Deixou-o entrar nos seus sonhos, sem receio. Expectante, tentando escutá-lo com atenção.
Ainda era cedo. Não se quis mostrar…
Foi paciente e foi tentando desenhar os seus movimentos, mas ficava indistinto a cada curva, a cada esboço. Decidiu dar-lhe tempo e deixar-se descobrir, para se aproximar e fazer parte de si.
É um lugar novo para desbravar, onde as entranhas da terra já se tinham acostumado a não serem revolvidas. Um lugar quase bravio, que tinha perdido o sentido das emoções, de receber e de dar.